quinta-feira, 15 de julho de 2010

FALTA DE APOIO?

Ao ler a notícia hoje publicada pelo I de que a «Falta de apoio do governo faz Moody's baixar rating da banca», não resisti a voltar a denunciar um dos maiores embustes dos últimos tempos.


Na prática aquilo a que temos vindo a assistir consiste num jogo cruzado de informação e contra-informação utilizado a bel-prazer dos agentes intervenientes nos mercados de capitais e que, para cúmulo, têm contado com o apoio, consciente ou inconsciente, das chamadas forças políticas.

Deixando correr para os jornais notícias a conta-gotas ou manipulando o seu teor os agentes do mercado continuam a dizer hoje o que negaram ontem e o que afirmaram anteontem completamente impossível. Contando com o apoio (ou efeito de amplificação) dos grupos políticos cujo único objectivo é a ascensão ao poder para contentamento das suas clientelas, têm contribuído de forma decisiva para destruir as poucas esperanças de recuperação económica que realmente pudessem ter existido.

Exigindo dos governos a contenção dos défices, num dia, para noutro “castigar” as economias cujos governos não se mostram tão disponíveis para “ajudar” a banca, o que os “mercados”têm feito consiste numa verdadeira razia – no sentido histórico do termo, quando este era utilizado pelo império romano para designar os assaltos perpetrados pelas tribos bárbaras – nas economias cuja existência dizem defender e por cuja liberdade dizem bater-se.

E, por incrível que possa parecer, prova de que tal assim acontece pode ser encontrada no texto da própria notícia, quando a propósito do recente anúncio da descida dos “ratings” atribuídos pela Moody’s a oito dos principais bancos portugueses, o jornalista escreveu: «As descidas foram justificadas com a falta de apoio do Estado português ao sector financeiro. "O corte no rating dos oito bancos reflecte a fraca capacidade do governo de ajudar os bancos", afirmou Maria-Jose Mori, analista da Moody's, que acompanha a banca nacional».

Na prática o abusivo sistema baseado no crédito, que durante décadas sustentou uma aparência de crescimento económico que na realidade raramente aconteceu, permitiu uma acumulação de riqueza fora da esfera produtiva das economias (famílias e empresas) que depois de obrigada a financiar o seu salvamento, foi criticada pelos desequilíbrios originados (os fundos injectados pelos Estados cujas receitas fiscais não têm parado de ser reduzidas em nome da liberalização dos mercados), obrigada a aumentar a carga fiscal sobre as famílias e volta agora a ser penalizado por não se mostrar disponível (leia-se, por não ter meios nem lhos serem concedidos) para voltar a salvar os bancos.

A denúncia deste absurdo que continua a influenciar e a condicionar a vida diária de biliões de trabalhadores e das suas famílias é tanto mais urgente quanto continuamos a assistir diariamente aos inqualificáveis e desorientados discursos dos políticos (nacionais e estrangeiros, dos governos e das oposições).

É indispensável que as vozes que apontam soluções alternativas – como o fim do monopólio da emissão de moeda pelo sistema financeiro, a extinção de “off-shores” e outros paraísos fiscais e a imposição de normas estritas ao funcionamento do sistema financeiro – se façam ouvir e os políticos entendam que existe quem reconheça e denuncie as asneiras que persistem em fazer.

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