quarta-feira, 21 de julho de 2010

CHINESICES

Quando se lê no mesmo jornal que «Portugal coloca 1,25 milhões em dívida a 12 meses» mas a preço mais elevado e que «Espanha coloca dívida a 12 meses com juro mais baixo», como não pensar naquela que parece a omnipresente questão dos “ratings” soberanos.

Depois de um primeiro semestre marcado pela eclodir da crise da dívida grega e de sucessivos anúncios de descida nos “ratings” das principais economias europeias, o último dos quais ocorreu já esta semana quando o ECONÓMICO divulgou que a Moody’s voltara a cortar o “rating” da Irlanda, e quando em resposta os governos europeus se apressaram a anunciar todo o tipo de medidas conducentes à redução dos seus défices e que agradassem aos “mercados”, eis que a situação parece ter-se alterado pouco, ou nada.

Gostem, ou não, os paladinos das virtudes dos equilíbrios orçamentais, a situação descrita mais não faz que justificar os críticos daquela ortodoxia, bem como a ideia que o que realmente de “joga” neste momento não é a credibilidade dos Estados ou das economias mas sim a necessidade de introduzir oscilações nos mercados que originem acréscimos de ganhos aos que nele participam, papel que a Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch (as três grandes empresas de notação de risco a nível mundial) têm cumprido na perfeição

Para aumentar a confusão – ou talvez não – surgiram recentes notícias de que uma nova empresa de origem chinesa (as outras três referidas são norte-americanas) – a Dagong – apresentou a sua própria classificação[1] para a dívida soberana das principais economias mundiais. Talvez para espanto de muitos os resultados apresentados não são substancialmente diferentes dos das três “majors”, salvo que aparentam uma maior consistência porque contrariamente àquelas apresentam uma distribuição mais equilibrada entre os diferentes graus de risco.

Uma rápida observação do quadro revela uma evidente tendência para que o maior número de observações apresentem uma classificação de qualidade média e que aquele número se reduza quando se caminha para qualquer dos dois extremos (risco muito baixo ou muito alto) ao contrário do que acontece com as outras três agências.

Mesmo sem perder que vista que esta nova agência tem por base o Banco Popular da China e o respectivo governo chinês merece a pena referir e analisar as conclusões daquele relatório, tanto mais que os resultados parecem bem fundamentados e, assim como assim, devem valer tanto como os dos consagrados que, recorde-se, falharam rotundamente na avaliação das emissões da dívida americana que esteve na origem do último “crash” de Wall Street e da sua propagação aos sistemas financeiros e económicos mundiais.


[1] O relatório com os resultados e as metodologias seguidas pode ser consultado aqui.

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