domingo, 26 de outubro de 2008

CUIDADO COM AS EUFORIAS

Estava ainda a acabar de escrever o “post” «PÂNICO? QUAL PÂNICO?» quando a notícia da inversão da tendência de subida generalizada dos principais índices, na sequência das medidas adoptadas pela UE e pelos EUA[1], me confirmou uma ideia que embora implícita naquele texto deve merecer maior detalhe.

Não só as subidas registadas nas cotações bolsistas não são um seguro sinal de recuperação da confiança, como é perfeitamente normal (e indispensável) que em períodos de acentuadas descidas nas cotações se sucedam períodos de interregno na tendência, única forma de assegurar a manutenção de um fluxo suficiente de “investidores” e de “lubrificar” o sistema com a possibilidade de realização de alguns ganhos.

Isto mesmo tem sido confirmado ao longo desta semana e meia, quando se constata uma rápida sucessão de notícias, por vezes de sinais antagónicos, mas que no geral têm funcionado particularmente para manter uma constante pressão no sentido da queda das cotações bolsista, tanto mais que a SEC[2] já levantou a proibição temporária que fez vigorar sobre o “short selling[3].

Numa palavra, os actores nos mercados de capitais mundiais demonstram que não só não aprenderam mais esta lição como parecem prontos a iniciar um novo ciclo de valorização ao menor sinal.

Ora isto será tanto mais preocupante quanto se aplica não apenas aos pequenos investidores, aqueles que mais têm perder em caso de “crash”, mas principalmente aos grandes responsáveis por terem conduzido os mercados de capitais à situação actual.

À constante sucessão de notícias sobre as dificuldades financeiras de muitos dos grandes bancos, passou-se às notícias sobre as “depressões económicas” que começam a atingir as principais economias mundiais, de que o mais recente exemplo é esta da BBC que noticia a entrada em recessão da economia inglesa, porque estas, mesmo quando verdadeiras, são fundamentais para continuar a atrair novos participantes neste medonho jogo piramidal em que foram transformados os mercados de capitais.
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[1] Estou a referir-me especificamente à decisão dos governos europeus apoiarem financeiramente os bancos que apresentem maior risco de falência, que foi anunciado na sequência de uma reunião do G7 que antecedeu a reunião de Paris. Para mais informação ver, por exemplo, esta notícia da BBC ou este comentário de Paul Krugman no NEW YORK TYMES.
[2] SECURITIES AND EXCHANGE COMMISSION é a autoridade que regula o funcionamento dos mercados de capitais nos EUA.
[3] Designação pela qual é conhecida uma prática hoje muito difundida nos mercados de capitais e que consiste em vender um activo (acção ou obrigação) sem o possuir; esta estratégia pressupõe a aquisição posterior do activo a um preço inferior ao da venda pelo que é particularmente adequada a períodos de queda nas cotações, como o que agora se vive. A questão que muitos analistas e estudiosos colocam é a de saber até que ponto os agentes no mercado não induzirão movimentos de queda nas cotações para maximizarem os ganhos da estratégia de “short selling”.

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