quarta-feira, 16 de julho de 2008

WELLCOME

Talvez para a maioria das pessoas a perspectiva de uma travessia transcontinental seja algo de aliciante (até de festivo ou mágico), mas para os que o observem de forma mais atenta o movimento diário dos grandes aeroportos internacionais apresenta pouco de atractivo e ainda menos de festivo.
Além do constante encarecimento das tarifas aéreas (a moda agora não é mais o puro e simples aumento de preço mas sim as regulares subidas da sobretaxa de combustível – petróleo justifica – e da constante invenção de novas taxas e sobretaxas) os que se atrevem a viajar (por prazer ou em negócios) são ainda massacrados com a generalização da paranóia securitária que a administração norte-americana tem habilidosamente explorado e exportado para os quatro cantos do mundo.
Além da permanente caça ao “terrorista árabe” (pobre do viajante que pela cor da tez ou pelo perfil do nariz levante uma ínfima suspeita aos zelosos “agentes da autoridade”) foi a invenção dos “explosivos líquidos” e todo o tipo de patranhas que têm sido utilizadas para justificar a instalação de sistemas de vigilância, controlo e identificação que embora cada vez mais sofisticados e dispendiosos para pouco mais servem que aumentar os tempos de espera nos aeroportos[1] e gastar até à exaustão a paciência dos viajantes, salvo como fonte inspiradora para um ou outro caricaturista, como é o caso deste trabalho do norte-americano Jeff Danziger que capta muito bem a essência (e a loucura) de tudo isto.

Duvido que os estabelecimentos comerciais (as tão faladas free-shops) lucrem substancialmente com este acréscimo de demora, porque o estado de irritação da maioria dos passageiros não deve ser aquele que mais favorece aquela actividade, mas tenho a certeza que a vontade de muitos passageiros em repetir a experiência, sai amplamente afectada até porque as próprias condições de conforto e comodidade oferecidas pela generalidade dos aeroportos são pouco menos que precárias.
Tudo isto me foi recentemente dado a observar in loco e aquilo que vi, nomeadamente na forma de tratamento dos estrangeiros, levou-me a recordar a seguinte frase de Miguel Sousa Tavares: «o grau de democracia de um país começa a medir-se na forma como os estrangeiros são tratados nas suas fronteiras: quanto maior a arrogância dos funcionários, mais falsa é a sua democracia»[2] e a confirmar quão justa ela é.
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[1] Alguns analistas têm alertado para o facto desta parafernália tecnológica servir às mil maravilhas para escamotear as dificuldades introduzidas nas operações de terra (check-in, tratamento de bagagens e reabastecimento dos aviões) das companhias aéreas em virtude das políticas de redução de pessoal e de outsorcing correntemente praticadas.
[2] A expressão foi retirada do artigo publicado no EXPRESSO «BEM-VINDO A PORTUGAL», mas aplica-se que nem uma luva àquilo que se assiste nos aeroportos de todo o mundo.

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