A pouca horas de
novas eleições legislativas das quais resultará a formação de um novo governo, é
da mais elementar justiça recordar a importância histórica do Parlamento que
agora termina funções.
Independentemente
das simpatias político partidárias ninguém de boa-fé poderá negar que o
parlamento eleito em 2015 deu uma importante lição ao País. Depois duma
questionável nomeação para a formação de governo e da sua rejeição no
Parlamento, depois duma inominável acção de bloqueio presidencial que se
recusava a aceitar outra solução governativa diversa da que lhe agradava, o
Parlamento impôs uma solução inédita no País, juntando socialistas (mais
correctamente deveria dizer-se sociais-democratas), comunistas, bloquistas
(marxistas e trotskistas) e ecologistas.
Esta coligação –
rapidamente apodada de “geringonça” por uma direita ressabiada, mas que se revelara
absolutamente incapaz de alargar o espectro político além dos populares (que se
auto-intitulam de sociais-democratas) e dos democratas cristãos (que querem ser
populares) – teve o enorme mérito de refutar alguns dos mais perniciosos dogmas
do nosso processo democrático. Primeiro o desgastado chavão de que a “esquerda”
portuguesa é meramente contestatária e lhe falta visão e capacidade de gerar
soluções governativas; depois a malfadada ideia de que existem candidatos ao
lugar de primeiro-ministro (algo que estupidamente alguns líderes partidários
continuam a persistir em afirmar); por último, devolveu ao Parlamento o seu
verdadeiro papel de origem e suporte à formação de soluções governativas.
Outro importante
resultado da solução governativa foi a refutação da ideia de que não existia
alternativa à solução da “austeridade expansionista”, tão cara à corrente neoliberal
que liderou o governo de Passos Coelho, pois o que fez na realidade o governo
de António Costa foi a aplicação das mesmas regras e restrições orçamentais sem
o exagero passista de querer ir além das próprias imposições dos credores.
Será que depois
da “geringonça” nada voltará a ser como era? Descansem os mais saudosistas que
todos os sinais apontam para um rápido esquecimento das lições que devíamos ter
aprendido nestes últimos quatro anos.
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