terça-feira, 31 de maio de 2016

DE NOVO A MAIORIA SILENCIOSA

O debate de ideias, em qualquer sociedade, deveria ser sempre encarado como factor altamente positivo e fomentador de progresso geral., asserção que é “vox populi” e de tão banal e enraizada nos hábito gerais nem deveria merecer grande atenção; sucede, porém, que regularmente surge quem procure – por interesse próprio ou, pior ainda, para agradar a terceiros – desvirtuar o debate mediante apelos de duvidosa consistência quando não de flagrante indigência intelectual.

Vem esta introdução a propósito duma questão – a proposta de revisão dos contratos de associação promovidos entre o Ministério da Educação e um conjunto de escolas privadas – que saltou para o debate público e de pronto se transformou em mais uma “batalha política” entre os defensores da “livre iniciativa” e os da escola pública., onde não têm faltado interventores, entre os quais destaco um eminente euro-deputado que hoje mesmo publicou no PUBLICO uma interessante reflexão sobre o tema e que intitulou «De novo, a maioria silenciosa. Venha ela».

Claro que, mais que a defesa dos interesses das empresas proprietárias de escolas privadas através dum conteúdo onde despudoradamente acusa o Ministério da Educação do mesmo crise de incumprimento de compromissos que apoiou e aplaudiu no tempo em que o governo era liderado pelos seus correlegionários do PSD e o alvo da acção eram os trabalhadores e os pensionistas, o que me despertou a atenção foi o título do texto. Para os mais novos sempre recordo que a figura da maioria silenciosa é anterior à passagem de António de Spínola pela Presidência da República (1974), quando os seus “fiéis” lançaram um apelo em defesa da sua sobrevivência no cargo, pois remonta aos anos finais da década de 60 quando o famigerado presidente Richard Nixon a invocou em oposição aos movimento de contestação à Guerra do Vietname.

Convenhamos que, vista sobre que perspectiva for (a de Spínola ou a de Nixon), a recuperação de semelhante aforismo e a sua aplicação à “causa das escolas privadas” deixa muito a desejar, pouco fará pelas “escolas” e, claro, ainda menos pelo autor, ou não comparasse ele a situação conjuntural vivida no Verão de 74 com uma medida da mais elementar justiça financeira (suspensão do financiamento público a colégios privadas em zonas onde existem escolas públicas) que a generalidade dos comentadores não contesta.

Em resumo, a histeria que está rodear esta questão e a forma como Paulo Rangel a alimenta (o regresso ao estafado “papão do comunismo devorador de criancinhas”) deixa pensar que o seu verdadeiro receio é o de que a racionalização que esta iniciativa pressupõe venha a ser estendida a outros sectores da actividade económica onde impera uma lógica rentista sustentada a expensas da generalidade dos cidadãos e em benefício exclusivo duma minoria.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

THE TIMES THEY ARE A-CHANGIN'

Ao ler notícias sobre coisas aparentemente tão distintas como a greve dos estivadores no Porto de Lisboa, as famigeradas sanções da UE sobre Portugal ou a forte contestação dos trabalhadores franceses às novas leis do trabalho que o governo Hollande pretende aplicar, veio-me à memória “The Times They Are A-Changin’”, o sentido grito de apelo à mudança escrito por Bob Dylan num momento que pode parecer distante (1963) mas que continua actual.


É que o denominador comum na intenção de aumento da desregulamentação das relações de trabalho (seja no Porto de Lisboa, numa Europa onde se sucedem as «Manifestações em França contra reforma do Código de Trabalho», ou noutro lugar qualquer), a par com a quase histérica campanha para sancionar os estados ibéricos que seguiram à risca as fracassadas políticas da “austeridade expansionista” oriundas da ordoliberal nomenklatura de Bruxelas, é à evidência o temor de ver soçobrar um modelo económico assente na pauperização e precarização dos vastos sectores da população que vivem do trabalho ou de pequenos negócios.

Notícias que dão conta da posição do ministro alemão das Finanças Wolfgang «Schäuble contra adiamento de sanções a Portugal e Espanha» ou onde, o líder do ECOFIN, Jeroem «Dijsselbloem diz haver "razões sérias" para aplicar sanções a Portugal» traduzem principalmente o despudor dos principais porta-vozes do ordoliberalismo, porquanto invocando uma violação da letra dos tratados europeus escamoteiam que a toda poderosa Alemanha também os desrespeita quando há três anos vem ultrapassando o limite máximo de 6% para o superavit da sua balança corrente.
2016-05-26

quarta-feira, 18 de maio de 2016

HUMORES

As notícias dos últimos dias em torno da questão da aplicação de sanções por défice excessivo, nomeadamente ao ser conhecido que o «PPE pediu “força máxima” nas sanções a Portugal», continuam a evidenciar a transformação da UE num centro de pressão política que voga ao sabor doutros interesses que não os dos povos europeus.


Depois de nos últimos dias as notícias em torno da questão da aplicação de sanções por défice excessivo terem variado entre as hipóteses em que «Bruxelas está a considerar a possibilidade de sanções para Portugal e Espanha» ou a de que a «Violação do limite do défice pode não dar sanções», eis que saiu hoje a decisão onde «Bruxelas exige mais medidas para reduzir défice e adia sanções até Julho»... como se o desrespeito pela meta do défice não se reportasse a 2015 ou se esta tivesse a primeira e única vez em que um qualquer estado-membro tivesse incumprido aquela meta.

O estrabismo político dos dirigentes europeus está a atingir dimensões perigosas – clara afronta ao princípio do respeito e da igualdade entre estados – a ponto de até os correlegionários nacionais do PPE («Passos e Maria Luís contra sanções da UE») terem manifestado oposição a semelhante ideia, se é que não o fizeram por mero tacticismo, pois o sancionamento representa uma clara declaração de fracasso da política que estes aplicaram por imposição dos “amigos” de Bruxelas.

Adiando a decisão para data posterior às eleições espanholas, a nomenklatura comunitária volta a repetir a mesma táctica que usou contra Atenas e da qual resultou uma vitória eleitoral do Syriza; será que esperam ver agora um resultado diferente ou são apenas genuinamente incompetentes para compreender que pouco a pouco os povos se vão revoltando contra os diktats neoliberais?

quarta-feira, 4 de maio de 2016

NÃO COMPREENDO

Segundo o NEGÓCIOS, Belmiro de Azevedo, o “patrão” da SONAE, afirmou hoje que "Não sei por que não deve haver economia baseada em mão-de-obra barata"...


Pensando bem e observando o Mundo que me rodeia faço minha alguma da sua perplexidade, pois também não compreendo porque não pode haver economia sem capitalistas super-ricos que se eximem ao pagamento de impostos e sem o mínimo de pudor ético para proferir afirmações daquele jaez.