domingo, 26 de setembro de 2010

ESTARÁ O MONSTRO MESMO MORTO?


Quem no início desta semana tenha folheado um ou outro jornal norte-americano não pode ter deixado de notar as notícias que, dando conta de uma conclusão do National Bureau of Economic Research (NBER), anunciavam o fim oficial, nos EUA, da recessão iniciada com a crise do “subprime”.


O comité de especialistas do NBER, que em Abril último adiara aquele anúncio oficial alegando não dispor ainda da necessária segurança (alguns dos seus membros admitiam mesmo a possibilidade da economia voltar aos resultados negativos), anunciou agora que a crise terminou em Junho de 2009, embora o sentimento da generalidade das pessoas contrarie abertamente aquela conclusão.
Fazendo-se ainda sentir bem vivos os efeitos de destruição de empregos, facto aliás registado pelos especialistas mas prontamente apontado como o único indicador negativo entre o conjunto observado, é natural que a reacção não seja propriamente eufórica, tanto mais que todos os sinais de recuperação económica são extremamente anémicos e existem observadores que mantém hoje, como em Abril mantinham alguns dos membros do NBER, a convicção de que as principais economias deverão voltar a registar resultados negativos muito em breve.

Esta perspectiva de “double dip”, é também defendida no último relatório do “think tank” europeu LEAP, que fundamenta em indicadores como a evolução do Índice de Crescimento da economia norte-americana e numa simples antevisão da evolução política e social, marcada pela realização das eleições intercalares do próximo mês de Novembro. 


Partindo da observação de factos tão concretos quanto a visível tendência para o aparecimento de candidatos exteriores ao “establishment” bipartidário (principalmente os ultraconservadores do movimento “Tea Party”), aquele “think tank” atribui uma elevada probabilidade à eclosão de uma maior agitação social, fenómeno que apenas poderá agravar as reconhecidas dificuldades que a instável economia americana atravessa, tanto mais que o desemprego continua elevado (os membros do NBER reconhecem essa realidade, como refere esta notícia do THE NEW YORK TIMES, e falam numa taxa de 9,6%, número francamente inferior aos 22% estimados pelo SHADOW GOVERNMENT STATISTICS) e as perspectivas de melhoria estão longe de serem animadoras; desde o início oficial da recessão foram destruídos 7,3 milhões de empregos nos EUA, as famílias viram-se desapossadas de 2,5 milhões de lares e o crescimento da economia continua a revelar-se dolorosamente lento, com o segundo trimestre do ano a registar um crescimento de 1,6% quando o anterior atingira os 3,7%, números bem inferiores aos 5% registados no último trimestre de 2009.

A gravidade do problema do desemprego (nos EUA e no resto das economias ocidentais) foi bem traduzido no último relatório da OCDE que estima, para a economia norte-americana um crescimento em 2010 da ordem dos 2,6% e uma estagnação da taxa de desemprego, pois o valor estimado para o crescimento económico representa cerca de metade do necessário para que a taxa de desemprego descesse 1%; àquela previsão soma-se o facto reconhecido de crise após crise estar a aumentar o período de tempo que medeia entre o início do ciclo de crescimento económico e a redução dos níveis de desemprego.

Se observarmos que na crise dos anos 80 do século passado o emprego começou a registar crescimento quase simultâneo com o fim da recessão, enquanto em 2001 demorou cerca de 19 meses a recuperar e agora, 15 meses volvidos não se regista o menor sinal de abrandamento, talvez se justifique a procura de outra explicação para o fenómeno além da que é tradicionalmente usada pelos especialistas que atribuem aquele hiato à demora na recuperação da confiança pelos agentes económicos (leia-se, empresários), bem como a natural frustração das populações.


A questão é que, tarde ou cedo, o desânimo popular terá reflexos na situação política dos Estados e fenómenos como o já referido movimento “Tea Party”, as manifestações que um pouco por todo o lado vão surgindo contra as políticas económicas e sociais dos governos e até decisões altamente controversas, como a medida populista e securitária de expulsão dos ciganos recentemente decidida pelo presidente Sarkozy, serão cada vez mais frequentes e introduzirão uma acrescida componente de insegurança que as franjas mais conservadoras e radicais não deixarão de explorar.

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