quarta-feira, 8 de julho de 2009

TEVE A OUSADIA DE DIZER...

Os períodos do ano em que habitualmente interrompemos as rotinas diárias, que vulgarmente designamos por férias, são inegáveis oportunidades para reorganizar as ideias e tantas vezes a muita informação que nos rodeia.

Foi precisamente quando o fazia que “tropecei” num texto cujo título me despertou a atenção - «OIL, ISLAM AND WOMEN» - e cujo interesse me parece inalterado, embora a sua publicação na American Political Science Review date de Fevereito de 2008; no artigo, o autor (Michael L. Ross, professor de ciência política na Universidade da Califórnia) teve a ousadia de dizer que, contrariamente à ideia vulgarizada, o Islão não é responsável pela fraca emancipação das mulheres, e que o verdadeiro responsável é a riqueza originada pelo petróleo, pois esta tem permitido a preservação e o aprofundamento de culturas patriarcais.

Segundo aquele investigador têm sido as crescentes receitas do petróleo e do gás, enriquecendo umas poucas oligarquias que têm determinado um maior afastamento das mulheres do mercado de trabalho e, consequentemente, o seu empobrecimento (financeiro e cultural) e o seu isolamento político e social. Entre os argumentos invocados destaca o facto de ser nos países exportadores de petróleo que a situação das mulheres é a pior e dá como exemplos o que ocorre em países vizinhos do Norte de África, como a Tunísia e a Argélia, onde a segunda, rica em hidrocarbonetos, apresenta um rendimento per capita superior mas uma nenor representatividade política das mulheres, ao inverso do que sucede na primeira.

Esta polémica não deve ser encarada de forma displicente, tanto mais que a história recente dos movimentos de emancipção feminina nos países ocidentais demonstrou a enorme importância que teve o facto das mulheres terem visto facilitado o seu ingresso no mercado do trabalho em virtude dos dois conflitos mundiais que reduziram a participação masculina enquanto aumentavam (e de que maneira) a necessidade de incrementar a produção industrial para o esforço de guerra.

Mesmo quando parecem haver alguns sinais de suavização no discurso oficial do Ocidente, a importância do texto e a actualidade que ainda hoje mantém justificam a referência que aqui deixo e o convite a uma leitura integral do texto.

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