sábado, 11 de dezembro de 2010

CHAMAS E ARAME FARPADO

Imagens e notícias difundidas a propósito do incêndio florestal que recentemente lavrou em Israel não deixaram de incluir a referência á colaboração prestada por bombeiros palestinianos.

Como é óbvio, num momento em que as relações entre Israel e a Autoridade Palestiniana registam novo arrefecimento, na sequência da não renovação da moratória israelita à expansão dos colonatos e à consequente suspensão da ronda de conversações iniciada no último Verão, a colaboração entre judeus e palestinianos (mesmo que no estrito campo do combate a um incêndio) não poderia deixar de ser notícia nem objecto das mais díspares reacções.

E se boa parte destas se centraram principalmente no que obviamente une todos os soldados da paz e salientaram a perspectiva simbólica do gesto de solidariedade, outras houve que não desperdiçaram o ensejo de reforçar o muito que persiste em separar os dois povos. Radicais palestinianos não deixaram de tecer críticas aos bombeiros palestinianos e lembrar o servilismo perante Israel de que acusam a direcção da Autoridade Palestiniana, enquanto os seus homólogos judeus preferiram salientar as manifestações de alegria que terão corrido nos territórios ocupados.

Uns e outros, como é normal neste tipo de confrontos e de extremismo de pontos de vista, preferiram enfatizar o que cada um tem de pior. Tal como alguns palestinianos continuam a encarar como perfeitamente adequado o recurso a atentados suicidas, continua a haver judeus que regularmente levam a cabo subtis actos de terrorismo como sejam o incêndio de colheitas e olivais palestinianos, referido nesta notícia da FRANCE24, mas raramente noticiados pela imprensa ocidental.

Neste conflito, que há décadas opõe judeus a palestinianos, não se confrontam santos a pecadores (como aliás em nenhum outro) mas os efeitos na disseminação do ódio e na vilanização dos adversários faz-se perdurar no tempo e tornará cada vez mais difícil encontrar uma plataforma que no futuro traga alguma paz às populações, se é que a persistente política de “apartheid” praticada pelos israelitas ainda poderá ser revertida.


Isso mesmo parece cada vez mais evidente da pretensa tentativa de mediação norte-americana que, depois de esbarrar na intransigência judaica quanto à construção de novas habitações nos territórios ocupados (incluindo Jerusalém Oriental) não poderá registar melhor acolhimento do lado palestiniano, onde mesmo o moderado Mahmoud Abbas (líder da OLP e da Autoridade Palestinian) disporá já de grande campo de manobra, seja perante uma população palestiniana que cada vez mais o acusa de fraqueza seja perante o movimento do Hamas (grupo de raiz islâmica que venceu as últimas eleições legislativas e controla a Faixa de Gaza) que cada vez o identifica como colaboracionista com a ocupação israelita.

A incapacidade norte-americana aparece aliás reconhecida num recente editorial do LE MONDE, que além da ineficiência da actuação da administração Obama destaca – e bem – a óbvia facilidade com que Benjamin Netanyhau, o primeiro-ministro israelita, está a “jogar” com as contradições próprias do sistema bipartidário do seu fiel aliado. Consciente de que poderá sempre contar com as posições mais conservadoras dos congressistas e dos representantes republicanos para limitar a acção pretensamente mais liberal dos democratas.

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