quarta-feira, 21 de abril de 2010

O RISCO SOBERANO

Pouco mais de quinze dias volvidos sobre o anúncio da decisão do Eurogrupo de apoiar financeiramente a depauperada Grécia e das primeiras notícias dando conta da reacção positiva dos mercados de capitais, eis que voltaram a ser notícia os problemas financeiros de outros países da Zona Euro.

Na primeira linha, como é evidente, não podia deixar de estar a economia portuguesa ou não fosse esta outra das mais endividadas; o estranho não é tanto aquele facto mas sim a forma cíclica como este tipo de notícias e comentários vão surgindo o que, somado a outros factores como sejam a persistência dos sinais de crise nos EUA e na Grã-Bretanha, a consequente fragilidade das respectivas moedas e os elevados níveis de endividamento, indicia que a verdadeira razão reside menos na realidade que descrevem que numa sustentada ânsia de propagandear os problemas alheios (nomeadamente os do Euro) como forma de escamotear os seus fantasmas e as suas próprias dificuldades.

A este factor, de natureza estratégica, deve ainda acrescentar-se um outro – a essência da actuação dos próprios intervenientes nos mercados de capitais e a inevitabilidade da aplicação das suas estratégias especulativas – para assim se poder compreender a verdadeira sustentabilidade das afirmações e o clima de terror que procuram instalar.

Porém, os interesses mais ou menos obscuros não podem justificar que as respostas àquelas críticas se resumam a silêncios comprometedores ou à mera denúncia dos óbvios interesses que lhes estão subjacentes. Queiramos ou não existe uma verdadeira fundamentação para os alertas – não só o nível do endividamento externo português é exagerado como as medidas propostas pelo governo de José Sócrates parecem insuficientes para inverter a situação – e de pouco servirá argumentar que os seus autores desconhecem a realidade da economia nacional ou que o que o que os move são meros objectivos especulativos.

Embora não esperasse ouvir de qualquer dos principais responsáveis nacionais ou comunitários declarações reveladoras de uma efectiva determinação para enfrentar o problema, não posso deixar de aqui referir duas que mais se destacaram; as recentemente proferidas pelo Presidente da República que disse que «Não acredito que se chegue a uma situação de bancarrota» – cuja essência se podia resumir a uma profissão de fé e como tal desprovida de fundamentação – ou as atribuídas ao comissário europeu dos Serviços Financeiros, o francês Michel Barnier, que defende a necessidade de «...pôr um ponto final a anos de escuridão, opacidade e comportamento secreto»[1] na produção e negociação de produtos derivados.

Tranquilizem-se os mais impressionados por esta ideia, pois rapidamente o membro da Comissão dirigida por Durão Barroso se apressou a esclarecer que tudo será feito e concertado no contexto das reuniões do G20 que deverão decorrer em Junho e Novembro; por outras palavras, tudo continuará como até agora pois evidentemente os líderes mundiais deverão optar pela estratégia reconhecidamente comprovada de pouco fazer para que tudo continue como antes.

É evidente que embora o paradigma desta estratégia seja representado por declarações como a de Cavaco Silva, a quem pouco faltou para propor que se aproveite a próxima visita papal para usar a influência do que tem assento no cadeirão de S. Pedro junto dos céus e assim garantir que nada de mau nos aconteça, nem por isso a tonitruante ameaça de Barnier representa mais que uma pia (e completamente inócua) ameaça.

A estratégia de nada ver, nada ouvir e nada dizer continuará a ser a privilegiada por aqueles que dizem representar os interesses do Povo na condução dos negócios públicos e que entretanto vão mantendo inalteradas as condições para que as grandes empresas financeiras mundiais (e os seus accionistas) continuem a lucrar com o cenário de crise económica mundial que criaram.
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[1] A citação foi extraída do artigo do I ONLINE «Bruxelas acusa bancos de empurrar Portugal para a falência».

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