quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PARA PENSAR...

Ao contrário do que poderia deixar antever as previsões publicadas no início do mês pela UE e que originaram algumas notícias e comentários sobre o fim da crise, eis que os dados sobre o desemprego publicados esta semana pelo INE, vieram recordar a todos que os tempos estarão pouco propícios para optimismos e em especial para os mais 500 mil trabalhadores que vêem sem emprego.

A avaliar pelos dados publicados pelo INE (que podem ser consultados aqui) só durante os últimos 12 meses foram “destruídos” 178.300 postos de trabalho, facto que determina uma taxa de desemprego já superior a 9%.

E este é o valor oficial, pois muitos asseguram que o valor real (incluindo os excluídos das listas dos centros de emprego e os que já terão desistido de procurar trabalho) daquele indicador já há muito ultrapassou os dois dígitos.

O crescimento generalizado do desemprego em períodos de crise económica transformou-se em algo absolutamente natural desde os tempos da Revolução Industrial, mas o que torna a situação actual um pouco diferente é que a par com o aumento do desemprego que se diz originado na recessão económica, na redução das exportações e do comércio mundial, verifica-se um aumento dos lucros das grandes empresas; este fenómeno dever-se-á a um facto simples: as empresas estão a usar uma estratégia de redução de custos (principalmente os ligados à mão-de-obra) para manterem o nível dos lucros.

Não se tratará apenas de uma política de relocalização das actividades produtivas, na procura dos países ou regiões onde a mão-de-obra seja mais barata, mas também uma consequência dos grandes desenvolvimentos na mecanização e automatização dos processos produtivos que estão a ditar a redução das necessidades do factor trabalho.

O espantoso em todo este processo é que os governantes dos diferentes países persistem num discurso demagógico de combate ao desemprego – como ainda detivessem algum tipo de poder de influência sobre as políticas empresariais das empresas que há muito internacionalizaram o seu capital – e de anúncio de políticas de investimento público destinadas ao combate daquele flagelo. É verdade que eles têm bem noção dos enormes riscos sociais e políticos que advirão de um crescimento descontrolado do desemprego, mas parecem revelar uma total assintonia da realidade histórica e económica que os rodeia.

Se recordarmos a enorme importância que teve para o processo de maturidade política das populações o início do processo produtivo organizado em manufacturas e sua posterior industrialização – pela aproximação entre os trabalhadores e a generalização do sentimento de comunidade e de partilha das dificuldades – ou a importância para o processo de emancipação política das mulheres da sua entrada generalizada no mercado de trabalho durante o período das duas guerras mundiais, talvez estejamos em melhores condições para constatarmos a efectiva necessidade de alteração do actual paradigma de trabalho quando se verifica que os desenvolvimentos registados na mecanização e automatização dos processos produtivos reduziram acentuadamente as necessidades de emprego de força de trabalho.

Uma vez que a história da espécie humana tem consistido num processo de desenvolvimentos cíclicos e que, melhor ou pior, sempre temos conseguido encontrar novas formas de organização que respondam às novas realidades e aos novos desafios, não será esta a oportunidade para começarmos a reflectir sobre um novo modelo de sociedade onde os termos “emprego” e “trabalho” ganhem novas dimensões?

É evidente que a sociedade que resultou da Revolução Industrial (aquela que ainda hoje vivemos) não podia senão valorizar o “trabalho”, pois esta era a única forma dos detentores do capital o poderem rentabilizar, mas agora que foram “descobertas” outras formas de o fazer porque não dessacralizá-lo e lançar um novo paradigma social que deixe de estigmatizar o “desemprego”?

Serão as vias do investimento público em massa (e de reconhecidamente baixo, ou nulo, retorno económico) levadas a cabo por aparelhos de Estado pauperizados pelas políticas de privatizações de todas e quaisquer actividades que a iniciativa privada considerasse atractivas a única via para a saída desta situação, ou pelo contrário não seria preferível (e seguramente bem mais económico) o lançamento de políticas criativas e orientadas para uma ocupação social da parte da população agora tornada supérflua?

Não seria, por exemplo, bem mais eficaz utilizar parte dos milhares de milhões de euros anunciados para as grandes obras públicas (aeroporto, TGV e auto-estradas) na fixação de um rendimento nacional para os que optem pela dedicação ao acompanhamento dos jovens e dos idosos, para os que desempenhem outras funções de carácter social e/ou local (como o apoio às colectividades de desporto ou de cultura e recreio), ou na realização de obras de proximidade como sejam a manutenção de escolas, instalações desportivas, culturais e de lazer.

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