quarta-feira, 20 de agosto de 2008

CONTABILIDADE CRIATIVA?

Terá sido com particular alívio que há dias todos nós ouvimos o ministro das finanças – Teixeira dos Santos – anunciar com júbilo e satisfação que a economia portuguesa não apresenta sinais de recessão pois os dados publicados pelo INE referentes ao segundo trimestre do ano revelaram um crescimento de 0,4%.

As palavras daquele responsável governativo - «É de esperar que a economia continue a manifestar a capacidade de resistência revelada no segundo trimestre» - foram mesmo transcritas para título de notícia pelo JORNAL DE NEGÓCIOS, enquanto o DIÁRIO ECONÓMICO ressaltava em editorial «A importância de 0,4%» e se alguns comentadores foram questionando a fiabilidade da informação do INE, por contrariar de forma tão evidente os resultados do conjunto das economias europeias, a outros pouco terá faltado para voltarmos a ouvir proclamado o fim da crise.

Mas se o anunciado crescimento do PIB nacional parece contrariar o sentimento generalizado que os portugueses têm sobre a evolução do seu dia-a-dia, que dizer do anúncio hoje feito pelo mesmo INE[1] relativo ao clima económico do mês passado e o indicador da actividade económica de Junho?

Se há uns dias os números anunciados por aquele organismo oficial espantavam toda a gente, como explicar a reviravolta agora anunciada, senão como a confirmação das suspeitas de recurso a alguma “contabilidade criativa” na estimativa do PIB?

É que mesmo considerando que o primeiro indicador respeita a um agregado macroeconómico obtido mediante recurso a métodos de cálculo mais ou menos rigorosos enquanto o segundo é resultado do tratamento estatístico de questionários individuais aos agentes económicos, dificilmente se entende como é que os “capitães da indústria” que regista crescimento revelam níveis de pessimismo tão elevados, a ponto de contradizerem a realidade.

Como não acredito que isto seja resultado de uma qualquer cabala para desacreditar o governo de José Sócrates, e o seu ministro Teixeira dos Santos, resta-nos esperar pelos resultados do terceiro trimestre para então confirmarmos se a informação estatística proveniente do INE merece ou não a credibilidade que se lhe exige!
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[1] Sobre a questão ver estas notícias do DIÁRIO ECONÓMICO e do JORNAL DE NEGÓCIOS:
Indicadores do clima e actividade económica agravam-se "significativamente" e Clima económico em Portugal agrava-se "significativamente" em Julho

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