quinta-feira, 26 de outubro de 2006

CRISE DE VALORES OU OPORTUNISMO?

No final da sua intervenção de abertura na conferência internacional «Que valores para este tempo», que decorre na Gulbenkian, Eduardo Lourenço disse em entrevista aos jornalistas presentes que discorda da tese corrente de culpabilização dos políticos uma vez que, enquanto eleitores, todos somos igualmente culpados.

Sendo sobejamente conhecidas as posições que aquele ensaísta tem advogado, excluo liminarmente a hipótese desta afirmação poder ser associada, ou entendida, como um apelo sebastianista de um “salvador da pátria”, mas julgo-as curtas pela falta de sugestão de um caminho a tomar.

Estaria Eduardo Lourenço a apelar à capacidade de mobilização e intervenção da cidadania?

Ou mais prosaicamente a desafiar-nos para o lançamento de acções públicas?

É que se erramos nas escolhas dos políticos que nos governam tal parece-me acontecer por duas diferentes ordens de razões:

- natural reflexo do baixo nível cultural e de formação do conjunto dos eleitores;

- o modelo para o processo de escolha (eleições baseadas em listas originárias das formações partidárias, seja qual for o nível de intervenção político da estrutura a eleger) não valoriza as escolhas dos eleitores mais sim os “jogos de bastidores” que conduzem à constituição das próprias listas.

Assim, parece-me que a grande crise de valores de que tanto se fala, se tem agravado muito pela falta de efectivos mecanismos de participação dos cidadãos na “res publica”; muito do apregoado desinteresse poderia desaparecer se fosse reconhecida a necessidade de introdução de alterações no processo de formação das listas concorrentes (favorecendo a constituição de listas de cidadãos, pelo menos para as eleições autárquicas), de forma a poder reflectir a opção de cada eleitor e simultaneamente potenciar e responsabilizar a participação dos cidadãos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Dei uma vista de olhos pelo blog e gostei.
Vou voltar.