terça-feira, 25 de julho de 2006

PARA QUE SERVEM OS EXAMES?

O JORNAL DE NOTÍCIAS inseriu ontem (24 de Julho de 2006) uma extensa entrevista com a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues. Num momento em que ainda não se encontra totalmente resolvida a polémica em torno da decisão de repetir os exames do 12º ano nas disciplinas de Física e de Química e depois da controversa passagem da ministra pelo Parlamento, gostava de ressaltar daquele texto a ideia que aliás é apresentada no seu título - Provas nacionais no 1º e 2º cilos já em 2006/2007 - e relativamente à qual outros meios de comunicação de prontos fizeram eco e apresentaram opiniões de outros intervenientes no processo educativo nacional.

Enquanto o PUBLICO Areproduziu de forma resumida o texto da entrevista, os jornalistas Pedro Sousa Tavares no DIÁRIO DE NOTÍCIAS e Angela Marques, no mesmo jornal, fizeram-se eco daquela intenção, apresentando opiniões a favor e contra a proposta. Entre os críticos destacam-se associações de professores, enquanto as associações de pais, a FENPROF e outros professores aplaudem a ideia. Importa porém recordar que a proposta da ministra consiste em submeter a exame nacional todos os alunos do 4º e 6º ano de escolaridade obrigatória nas disciplinas de Português e de Matemática. Estas provas servirão para aferição daquelas disciplinas e não terão qualquer influência na classificação final dos alunos.

Ora aqui é que parece que reside a principal questão desta proposta. Ninguém, ministério e associações profissionais, contesta a necessidade de proceder a aferições do sistema educativo (a diferença entre exames e aferições é que estes não influem na classificação final do aluno, servindo apenas para avaliar a qualidade do ensino e não o grau individual de aquisição de conhecimentos), mas há quem defenda a necessidade destas provas prefigurarem verdadeiros exames.

Apesar de alguns especialistas em matéria de pedagogia defenderem que o facto das provas não influírem na nota final dos alunos não determina que estes revelem menor empenho na sua realização, já a Confederação Nacional das Associações de Pais e o ex-secretário de estado da educação do governo de Santana Lopes defendem que estas sejam uma componente de avaliação (só não percebo é porque o não fizeram quando passaram pelo governo).

Por mim continuo a manifestar a estranheza de haver quem julgue útil (entenda-se benéfico) que os nossos jovens passem 9 anos num sistema de educação obrigatória sem realizarem um único exame digno desse nome. Pelo contrário, são depois submetidos a uma avaliação no final do ensino secundário (única, obrigatória e determinante) para a definição da sua continuação de estudos. Nunca consegui entender como os nossos pedagogos e demais personalidades influentes na definição da política nacional de educação esperam que os jovens dominem com um mínimo de mestria uma situação delicada (e totalmente nova) como a da realização dos exames de 12º ano.

Pelo que vejo, vai-se continuar a persistir no erro de perpetuar um sistema de ensino obrigatório onde os jovens não são confrontados com a essência básica de qualquer processo de aprendizagem – a necessidade de trabalho árduo e a confrontação com provas eliminatórias – que os habilitem a progredir na aprendizagem, na aquisição de competências e até a progressivamente encararem com normalidade (que julgo meio caminho andado para o sucesso) a realização regular de provas.

No meu ponto de vista (e sei bem que não sou o único a pensar desta forma) nunca conseguiremos ter um sistema de ensino capaz de formar jovens para enfrentarem a crescente complexidade das tarefas que os aguardam (seja no mundo do trabalho, seja na continuação de estudos), enquanto estes não entenderem que a aquisição de competências requer trabalho, esforço e capacidade para ultrapassar obstáculos (exames) e ainda para superar reveses e contratempos.

Porque continuo sem entender as razões de se persistir em acenar aos jovens com um “mundo” de facilidades – acção absolutamente contra natura – quando todos sabemos que “isso” não existe, continuarei a insistir numa radical alteração na prática do sistema de educação nacional, mesmo que isso venha a traduzir-se numa degradação das médias estatísticas do sucesso escolar, defendendo a realização de exames no final de cada ciclo de ensino (actualmente no 4º ano, 6º ano, 9º ano e 12º ano) a todas as disciplinas e com carácter eliminatório.

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