A progressiva
monetização do nosso dia-a-dia e a persistente tendência para a subida
generalizada dos preços trouxeram para o vocabulário comum o termo inflação,
que os dicionários descrevem como o «desequilíbrio económico caracterizado por uma alta
geral dos preços e que provém do excesso do poder de compra da massa dos consumidores
(particulares, empresas, Estado) em relação à quantidade de bens e de serviços postos
à sua disposição» (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)
e que com o desenvolvimento do movimento sindical acabou transformado numa espécie
de indexante salarial com vista a que os assalariados pouco perdessem do seu
poder de compra.
No último
quartel do século passado, num período em que passou a vigorar a expectativa numa
progressiva redução da taxa de inflação e graças a um artifício estatístico
(para muitos nunca terá passado de uma simples artimanha), deixou de se
considerar a inflação registada – aquela que era conhecida e poderia ser medida
de forma mais ou menos exacta – para se adoptar (na realidade deverá dizer-se
que foi uma opção imposta pelos governos) o conceito de inflação esperada como
indexante para as actualizações salariais e outras variáveis de natureza
macroeconómica indispensáveis à elaboração de orçamentos e demais peças
previsionais.
Logo se percebeu
na altura que o objectivo deste “ajustamento” era fundamentalmente o de aumentar
ainda mais o já existente fosso entre rendimentos do trabalho e do capital,
assegurando por via administrativa um certo controlo de parte dos custos de
produção, facilitado pela inevitável confusão nas terminologias (inflação estimada
ou prevista e inflação registada ou simplesmente inflação) e pela reduzida
informação da generalidade dos cidadãos.
De uma forma ou
outra a ideia vingou e em todo e qualquer processo negocial a parte mais forte
foi impondo a sua utilização e, muito em particular, usando e abusando daquela
confusão. E chegamos à actualidade para verificarmos que não só a confusão fez
escola como agora se generaliza o uso e abuso dos dois conceitos – inflação registada
e inflação esperada – na produção de peças da importância do Orçamento do
Estado quando se actualizam salários e escalões do IRS com base na inflação do
ano anterior (a inflação registada) enquanto se anuncia uma inflação esperada (aquela
de determinação polémica e inexacta) que começou a ser utilizada por mero
interesse táctico mas é prontamente abandonada logo que as condições reais se
inverteram.
Para cúmulo este
comportamento tacticista vem agravar ainda mais o longo período de estagnação/regressão
salarial imposto a pretexto duma crise de origens e causas incertas e diz bem
das reais intenções equalitárias de quem subscrever este orçamento.