quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

AQUELE OBJECTO DE DESEJO CHAMADO… INFLAÇÃO


A progressiva monetização do nosso dia-a-dia e a persistente tendência para a subida generalizada dos preços trouxeram para o vocabulário comum o termo inflação, que os dicionários descrevem como o «desequilíbrio económico caracterizado por uma alta geral dos preços e que provém do excesso do poder de compra da massa dos consumidores (particulares, empresas, Estado) em relação à quantidade de bens e de serviços postos à sua disposição» (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa) e que com o desenvolvimento do movimento sindical acabou transformado numa espécie de indexante salarial com vista a que os assalariados pouco perdessem do seu poder de compra.




No último quartel do século passado, num período em que passou a vigorar a expectativa numa progressiva redução da taxa de inflação e graças a um artifício estatístico (para muitos nunca terá passado de uma simples artimanha), deixou de se considerar a inflação registada – aquela que era conhecida e poderia ser medida de forma mais ou menos exacta – para se adoptar (na realidade deverá dizer-se que foi uma opção imposta pelos governos) o conceito de inflação esperada como indexante para as actualizações salariais e outras variáveis de natureza macroeconómica indispensáveis à elaboração de orçamentos e demais peças previsionais.

Logo se percebeu na altura que o objectivo deste “ajustamento” era fundamentalmente o de aumentar ainda mais o já existente fosso entre rendimentos do trabalho e do capital, assegurando por via administrativa um certo controlo de parte dos custos de produção, facilitado pela inevitável confusão nas terminologias (inflação estimada ou prevista e inflação registada ou simplesmente inflação) e pela reduzida informação da generalidade dos cidadãos.

De uma forma ou outra a ideia vingou e em todo e qualquer processo negocial a parte mais forte foi impondo a sua utilização e, muito em particular, usando e abusando daquela confusão. E chegamos à actualidade para verificarmos que não só a confusão fez escola como agora se generaliza o uso e abuso dos dois conceitos – inflação registada e inflação esperada – na produção de peças da importância do Orçamento do Estado quando se actualizam salários e escalões do IRS com base na inflação do ano anterior (a inflação registada) enquanto se anuncia uma inflação esperada (aquela de determinação polémica e inexacta) que começou a ser utilizada por mero interesse táctico mas é prontamente abandonada logo que as condições reais se inverteram.

Para cúmulo este comportamento tacticista vem agravar ainda mais o longo período de estagnação/regressão salarial imposto a pretexto duma crise de origens e causas incertas e diz bem das reais intenções equalitárias de quem subscrever este orçamento.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

ENGLOBAR, OU NÃO…


Depois de uma primeira ideia favorável ao englobamento de todos os rendimentos em sede de IRS, eis que o governo de António Costa dá o dito por não dito e até já admite que nem em 2020 nem provavelmente nunca


É verdade que mal a ideia foi anunciada logo surgiu a avalanche de críticas, comentários e lamúrias lembrando o medonho dano que se faria à já frágil capacidade de poupança nacional ou agitando o desgastado espantalho da fuga do investimento estrangeiro. Muito barulho para a habitual cortina de fumo com se continua a escamotear uma triste realidade nacional onde se aplicam taxas mais elevadas aos rendimentos de trabalho que aos de capital (rendas, juros e dividendos) e ainda se tem o despautério de classificar a hipótese niveladora de agravamento fiscal, como se a introdução de critérios equiparados e niveladores constituísse outra coisa senão um agravamento para o conjunto de rendimentos que tem beneficiado de injustas prerrogativas.

Em resumo, este é apenas mais um exemplo do conhecido aforismo da entrada de leão e saída de sendeiro; António Costa e o PS continuam a bloquear as políticas que possam trazer maior equidade fiscal, mantendo a famigerada prática de pouco ou nada beliscar os interesses dos mais ricos e poderosos.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

domingo, 13 de outubro de 2019

AINDA O ACORDO ORTOGRÁFICO


A propósito da primeira reunião do Conselho da Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), órgão técnico do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), que teve lugar na semana passada, publicou o EXPRESSO um artigo que titulou com uma afirmação atribuída a um dos seus membros, o linguista Malaca Cavaleiro.


Defende este especialista que revogar o Acordo Ortográfico não seria honesto para as novas gerações, afirmação que até poderá ser entendível face á teimosia política na aplicação de um acordo polémico, mas que escamoteia a vergonhosa realidade deste famigerado acordo ter sido extemporaneamente imposto em Portugal. A reclamada necessidade de honestidade tem que ser aplicada aos dois lados (o que apoia, mas também o que contesta) do problema.