Enquanto em Portugal estivemos mergulhados num carnaval eleitoral, o Mundo e a Europa continuaram a enterrar-se na crise que teima em aprofundar-se e para a qual americanos e europeus continuam sem encontrar soluções.
Não bastando o facto de terem optado por vias diferentes, com os americanos a privilegiarem o crescimento da sua economia e uma eventual redução do desemprego e os europeus a seguirem a via dogmática do equilíbrio financeiro e da redução dos défices, constata-se que uma e outra não apresentam resultados eficazes e enquanto os EUA estão mergulhados numa colossal dívida externa (as últimas estimativas apontam para uma dívida pública superior a 14 biliões de dólares) a Europa debate-se com os resgates organizados das economias periféricas.
Depois dos pacotes de resgate grego (110 mil milhões de euros), irlandês (85 mil milhões de euros) e português (78 mil milhões de euros), apresentados pelos responsáveis da UE e dos governos das maiores economias europeias (Alemanha e França) como a solução definitiva para os problemas do euro, a par com as rígidas medidas de austeridade a aplicar àquelas economias, eis que, como escreveu o PUBLICO, passado um ano, a UE já admite que ajuda dada à Grécia não chega ou, como noticiou o NEGÓCIOS, a Grécia deverá receber ajuda extra de 60 mil milhões de euros, tudo claros sinais da ineficácia das medidas “negociadas” com o FMI e o FEEF.
É evidente que parte das dificuldades do governo grego resultam da clara oposição que os seus cidadãos têm manifestado no último ano, mas o fundamental a reter é que as políticas económicas adoptadas conduzem inevitavelmente a cenários de recessão económica e isso está a tornar-se cada vez mais difícil de “vender” aos eleitores e a transformar-se num quebra-cabeças para os políticos e para os partidos no poder. Navegando “à vista” em mares revoltos, sem estratégias definidas nem convicções próprias, os líderes europeus debatem-se sem rumo nem prestígio para convencer eleitores e “mercados” da qualidade e justeza das opções que vão tomando ao sabor dos ventos financeiros e do ecoar das contestações populares, enquanto os “especialistas” esgrimem argumentos em defesa duma ou doutra alternativa sem nunca demonstrarem a veracidade técnica dos seus argumentos.
Que a situação europeia, com a pobre Grécia na primeira linha, é extremamente complicada, que a sustentabilidade da Zona Euro depende da formulação e aplicação de estratégias firmes, concertadas entre todos os seus membros, mas sem esquecer que o verdadeiro sustentáculo da moeda única e da economia do espaço europeu são as suas populações, não deixará dúvidas a muita gente, salvo talvez aqueles que propalando a defesa e a sustentabilidade europeia visam é o seu contrário enquanto almejam que a sua própria moeda e a sua economia sobreviva às investidas sobre o euro e se mantenha a par com o dólar americano. Mas, para uns e outros, parece continuar a faltar uma clara noção sobre a origem e a evolução da tempestade que atravessam; na falta destas recorrem em medidas diversas à desgastada táctica de negar as evidências e esperam que a tormenta cesse de forma tão rápida como começou e que, como sempre leram ou ouviram citar nos manuais antigos, a bonança chegue...
Alternando entre uma euforia desmedida e uma “cegueira” intencional, aqueles que deveriam clarificar e orientar os caminhos colectivos, já nem hesitam em passar autênticos atestado de óbito aos mais fracos enquanto proclamam que a Grécia tem duas opções: ”Sacrificar-se ou sair do Euro”.
Passe o exagero, ou a figura de estilo, o facto é que cada vez parece mais próximo um cenário de reestruturação da dívida grega (isso mesmo foi referido pelo PUBLICO quando assegura que a Alemanha pretende envolver credores privados na solução da dívida grega), facto que talvez contribua para que paulatinamente se comece a interiorizar a ideia que, analisada à dimensão global, dificilmente existirão recursos globais para satisfazer a dívida mundial e finalmente ganhe corpo a necessidade de encarar o fenómeno do endividamento numa dimensão adequada – a do ajustamento dos pagamentos à capacidade de gerar receitas dos devedores – e humana, permitindo que as economias retomem um curso de crescimento normal e que o rendimento do trabalho se reflicta primeiro em benefício das populações e secundariamente em remuneração de quem mais não tem feito que especular com a vida e o bem-estar das populações.
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