quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OPORTUNIDADE PERDIDA?

Vamos voltar a votar no próximo Domingo, com o objectivo de eleger os executivos autárquicos para o próximo quadriénio.

Dito assim, pode parecer algo tão banal quanto qualquer outra eleição; porém, as autárquicas deviam ser as eleições mais importantes e participadas pelos eleitores, pois trata-se de escolher as pessoas que irão zelar pelas questões de maior proximidade dos eleitores – a gestão de espaços públicos, de redes de saneamento e de limpeza, de ordenamento de tráfego local e até de equipamentos desportivos e culturais – e de importância, por vezes capital, para o desenvolvimento regional, como sejam a captação de indústrias e serviços criadoras de emprego e potenciadoras de bem-estar local.

Aquilo que a observação estatística de actos anteriores nos permite concluir, além da conhecida tendência para o aumento da taxa de abstenção

é que a nível do concelho de Almeirim se verifica um fenómeno distinto, com uma clara tendência para o aumento daquela taxa, depois de um período (entre 1976 e 1985) no qual ela foi inferior (e por vezes muito inferior) à média nacional.

Ao atingirem-se nas últimas eleições valores de abstenção muito próximos dos 50% (48,48% em 2001 e 48,55% em 2005) seria de nos interrogarmos das razões que a tal terão conduzido e sem cairmos na tentação fácil de explicar este fenómeno pelo natural desgaste e desinteresse dos eleitores.

Se os quase trinta anos decorridos desde o particularmente concorrido acto eleitoral de 1979, quando a abstenção se quedou pelos 20,63% (ano em que a média nacional atingiu as 28,26%) poderão dar razão ao estafado argumento do “cansaço”, já a evidente e perigosa tendência de crescimento daquela taxa poderão significar que o alheamento dos eleitores é em grande medida relação inversa da qualidade dos candidatos.

Mesmo que esta explicação possa também ela revestir-se de algum simplismo, parece-me a mais realista face à evolução registada. Se assim não for, que outras razões poderão estar na origem do desinteresse de um universo eleitoral que no primeiro terço do período observado apresenta valores inferiores à média e depois passa para valores bem superiores?

E perante este cenário como reagiram as forças políticas locais? Procederam a uma renovação das propostas, quer em termos de políticas quer em termos de representantes, ou pelo contrário limitaram-se a “oferecer” mais do mesmo aos eleitores?

Desde o já longínquo ano de 1985, em que o aparecimento do PRD trouxe alguma agitação à cena política local, que não se verifica qualquer modificação ao “status quo” político-social local, tendência quebrada este ano com o aparecimento de uma lista de independentes.

A candidatura do MICA (Movimento Independente do Concelho de Almeirim) deveria por si só ser assinalada como acontecimento de relevância maior, não fora o facto desta novidade poucas alterações ter introduzido no figurino político local. Ao contrário do que é habitual em termos de uma estrutura partidária formal, uma candidatura independente deveria ter começado por mobilizar os munícipes, desafiando-os a participarem de forma mais activa em todo o processo de formação e definição programática, ao invés de, como refere o seu próprio programa, ter sido construída à volta de candidatos a cargos autárquicos.

Embora ainda falte o veredicto das urnas, não me custa antecipar desde já que foi pena ter-se perdido uma oportunidade de construção de um verdadeiro movimento de base e de assim se contribuir para a reanimação da vida política local e para uma possível redução da abstenção.

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