quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

TUDO POUCO CLARO

Confirmados os resultados que as sondagens vinham anunciando para as eleições gerais em Israel, só terá mesmo faltado um candidato que fizesse jus ao humor do caricaturista Jiho, porque fora isso houve-os para quase todos os gostos.

Os trinta e três partidos que se apresentaram a escrutínio para disputarem os 120 lugares do Knesset[1] voltaram como habitual a não produzir uma maioria governativa e as eleições registaram uma forte abstenção[2], não só da maioria judaica mas ainda maior da minoria árabe que forte nos seus 20% da população deveria constituir uma das principais forças políticas, mas que desmobilizada e fragmentada em várias organizações não terá atingido 10% dos votos contabilizados.

A fragmentação é aliás a principal característica da cena política israelita que regista entre as principais forças políticas, agrupamentos como o KADIMA (o partido de centro direita criado por Ariel Sharon, agora dirigido por Tzipi Livni depois do abandono de Ehud Olmert), o AVODA (partido trabalhista e sionista dirigido por Ehud Barak) e o LIKUD (nacionalista e conservador, principal força da oposição e onde pontifica o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu), até ao ultranacionalista Yisrael Beiteinu (dirigido por Avigdor Lieberman), os ultraortodoxos (o sefardita[3] Shas, e o ashkenaze[4] Judaísmo Unido da Torah), os movimentos nacionalistas religiosos – Ihoud Leoumi (União Nacional) et Ha-Bayit Ha-Yehudi (Fórum Judaico) – tradicionais apoiantes da instalação dos colonatos, os pequenos partidos de esquerda onde pontifica o pacifista e social-democrata Meretz e até um partido dos reformados – o GIL – cujo programa se centra principalmente no melhoramento das condições das pensões e dos seguros de saúde dos aposentados e pensionistas em Israel.

Esta evidente mistura de conceitos religiosos com princípios laicos, de preocupações sociais com outras de carácter quase pessoal e uma quase total ausência de programas políticos baseados em diferentes abordagens ideológicas, a que se adiciona uma clara paranóia securitária que insiste em ampliar as ameaças e fomentar um clima de guerra que será afinal o principal ponto de união de uma nação que na realidade se encontra dividida entre judeus ashkenazes e sefarditas, entre ultraortodoxos e laicos e entre ricos e pobres, divisões que poderão vir a conhecer um desfecho violento, tanto mais que o ódio parece ser um sentimento bem comum por aquelas paragens.
Ainda assim, segundo informação da
BBC NEWS da votação deverá resultar a seguinte distribuição de lugares no parlamento:

merecendo destaque o facto de não se terem confirmado as previsões das sondagens, que davam uma clara vitória ao LIKUD, e de apesar dos apelos ao boicote por alguns grupos da minoria palestiniana, o conjunto dos seus representantes (Hadash, United Arab List e Balad) ter obtido cerca de 10% da votação e tantos quantos os do partido ultraortodoxo Shas.

No rescaldo de umas eleições antecipadas em consequência do insucesso de Tzipi Livni para formar uma coligação no anterior quadro parlamentar e onde não se registou uma clara vantagem de qualquer dos partidos, os líderes do KADIMA e do LIKUD afirmam-se prontos para assegurar a chefia do próximo governo. E se Tzipi Livni reivindica esse direito com base no facto do seu KADIMA ter sido o partido mais votado, já Benjamim Netanyahu sustenta a sua posição no facto das forças de direita disporem de vantagem na contagem dos lugares parlamentares.

Embora muitos analistas não tenham deixado esquecer o facto de o próximo governo israelita dever vir a confrontar-se com um número crescente de problemas (desde o perpétuo conflito com os palestinianos, a necessidade de estabelecer negociações com vizinhos incómodos como a Síria e a de enfrentar a questão do nuclear iraniano, já para não falar no aprofundamento da crise económica mundial que a avaliar pela campanha eleitoral que terminou parece não fazer parte das preocupações dos israelitas) tal não parece atemorizar Livni e Netanyahu, ávidos em anunciarem a respectiva candidatura à chefia do governo. A avidez é de tal natureza que, segundo informa o YEDIOTH AHRONOTH, a líder do KADIMA já esqueceu as afirmações proferidas durante a campanha eleitoral que excluíam a possibilidade de associação com a extrema-direita representada pelo ISRAEL BEITEINU e já se reuniu com Avigdor Lieberman, o líder daquele grupo, para negociar o seu apoio.

Porque, infelizmente, as incongruências dos políticos são cada vez mais a imagem comum, existem mais que fortes indícios de que qualquer que seja a coligação a emergir destas eleições o principal problema da região continuará sem solução à vista. Com Livni ou com Netanyahu, do lado israelita, com Obama na Casa Branca, com a Fatah ou com o Hamas, do lado palestiniano, a vida diária dos milhões de palestinianos que vivem em Israel, na Cisjordânia ou na Faixa de Gaza vai continuar a arrastar-se naquilo que raia a indignidade humana.
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[1] O termo em hebraico significa literalmente “a assembleia” e é a designação do Parlamento de Israel.
[2] De acordo com esta notícia do YEDIOTH AHRONOTH, a duas horas do fecho das urnas pouco mais de 50% dos eleitores tinham votado.
[3] O termo sefardita aplicava-se originalmente aos descendentes dos judeus oriundos da Península Ibérica (Sefarad), mas com o tempo começou a incluir as comunidades oriundas do Norte de África por esta ter sido uma das primeiras regiões onde aqueles procuraram refúgio após o início das perseguições da Inquisição católica.
[4] O termo ashkenaze designa os judeus oriundos da Europa Central e Oriental (provém da designação hebraica da Alemanha – Ashkenaz).

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