sexta-feira, 7 de novembro de 2008

AS TEMPESTADES CONTINUAM A FORMAR-SE

Quando há dias referi aqui que a estratégia de salvamento dos bancos estava a ser encarada pelos respectivos banqueiros como uma excelente oportunidade para rapidamente retomarem as práticas especulativas que conduziram os mercados financeiros à situação que atravessam, não pensava encontrar tão rapidamente um exemplo nacional do que dissera, mas eis que lendo esta notícia do DIÁRIO ECONÓMICO, não fica qualquer dúvida que continuamos sem nada ter aprendido com o que está a acontecer.

O produto financeiro que a IG Markets começou a comercializar em Portugal, os CFD sobre o PSI-20, é, nem mais nem menos, que um produto de pura especulação sobre a evolução do índice bolsista nacional. Como o próprio nome indica um CFD, ou “contract for difference”, consiste num contrato em que o vendedor e o comprador assumem pagar um ao outro a variação que o activo subjacente (o índice PSI-20 no caso concreto) venha a registar no período convencionado (o vendedor paga ao comprador em caso de subida e recebe do comprador em caso de descida).

Apresentados como modernos e sofisticados contratos financeiros que possibilitam aos investidores (compradores) aceder aos benefícios dos ganhos da evolução das cotações sem necessidade de dispor senão de uma pequena margem (normalmente da ordem dos 1% para os contratos sobre índices, até 30% para os contratos sobre acções) do valor do activo abrangidos pelo contrato.

Na prática, um pequeno investimento de 1.000€ proporcionará ao investidor o encaixe dos ganhos da subida do PSI-20 correspondente ao investimento de 100.000€ o que o transforma num “negócio” altamente atractivo, mas atenção, porque os prejuízos serão de igual proporção no caso do índice descer.

Se este é o efeito perverso para os “investidores” menos atentos e informados que apenas querem ouvir mencionar os ganhos potenciais, para os vendedores este negócio pode ainda ser mais atractivo pelo efeito de alavancagem que incorpora. Na prática as empresas financeiras alavancam as comissões pagas pelos investidores com crédito (na proporção correspondente ao valor da margem cobrada) para adquirirem posições no activo subjacente, cobrirem o risco e multiplicarem os ganhos.

Esta é a envolvente teórica do negócio, porque na prática raras são as empresas financeiras que resistem a limitar os seus ganhos ao comissionamento e num ápice a alavancagem leva-os a actuar no mercado como especuladores e a sofrerem os reveses associados a essa estratégia, os quais, por via da tal alavancagem, podem ser catastróficos.

Que o digam o Lehman Brothers e outros...

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