quarta-feira, 3 de setembro de 2008

PASMEM

Quando ontem acabei de ler a crónica que semanalmente Baptista-Bastos publica no DN – NENHUM SILÊNCIO É INOCENTE – achei que talvez a conclusão:

«Os cem jovens que assistem ao conclave de Castelo de Vide vão, com aqueles "professores", aprender - quê? Os exemplos não são virtuosos

…fosse um pouco injusta mas, depois de ler o resumo que o POVO LIVRE apresentou da intervenção de António Borges numa das sessões da Universidade de Verão do PSD[1], mudei de opinião!

Baptista-Bastos foi demasiado meigo…

Quando constato que aquele «…reputado e experiente economista…» (a expressão é da exclusiva responsabilidade do POVO LIVRE) produziu as seguintes afirmações:
  1. «o crescimento económico do nosso país, quando “comparado com o de qualquer outro país concorrente, é muito mais fraco. E é assim desde há dez anos”»;
  2. «os trabalhadores portugueses têm uma evolução salarial extremamente triste e deprimente”, e acrescentou que “Não pode haver uma sociedade desenvolvida sem pleno emprego”»;
  3. «enquanto a política económica for direccionada somente para as grandes empresas não teremos um crescimento económico sustentado»;
  4. «denunciou a política económica profundamente errada que está a ser seguida em Portugal e alertou para o problema do endividamento externo do país, considerando que “essa tem que ser uma questão central do debate, porque está em causa o nosso futuro colectivo”»;
  5. «“para recorrermos ao financiamento externo temos que aplicar o dinheiro em investimentos que devolvam um retorno superior ao custo do financiamento externo (…) e não é isso que temos feito”, disse, ilustrando com o exemplo da construção de demasiados estádios de futebol, por ocasião do campeonato europeu de futebol»;
  6. «“o mau investimento é um enorme handicap para a economia e um travão brutal ao crescimento económico”. Urge por isso fazer uma “selecção criteriosa dos investimentos a fazer”»;

não posso, boquiaberto de espanto, deixar de formular um ingénua questão: Quem foram os responsáveis pela governação de Portugal nestes últimos dez anos?

Para não cometer erros de memória consultei o Portal do Governo no qual encontrei a seguinte informação:

1995 – 2002 – António Guterres

2002 – 2004 – Durão Barroso

2004 – 2005 – Pedro Santana Lopes

2005 – 2008 – José Sócrates

que parecendo confirmar a afirmação de António Borges (de 1998 a 2008 tivemos sete anos de governos do PS e três do PSD) nem por isso esta deixa de ser um medonho embuste e a prova de uma enorme falta de rigor, na medida em que as políticas que critica não remontam aos governos de Guterres mas sim dez anos antes, aos governos de Cavaco Silva. Rectificado o erro, fácil se torna concluir que nos últimos 25 anos PS e PSD dividiram quase irmãmente (12 anos para o primeiro e 13 para o segundo) as responsabilidades governativas e representam os verdadeiros responsáveis pela calamitosa situação que descreveu.

Embora em múltiplas ocasiões eu próprio tenha exposto idêntico tipo de críticas, a falta de escrúpulos e de rigor ético com que António Borges endossou a responsabilidade a outros é de tal forma grosseira que nem vou sequer gastar tempo com o assunto e deixo a palavra ao autor com que abri este “post”:

«Estamos entregues a uma gente ignara, soberba e tola»[2]

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[1] Iniciativa que o PSD vem organizando, que tem como destinatários os seus militantes mais jovens, está a decorrer em Castelo de Vide e regista, salvo erro, a sua sexta edição.
[2] Refiro-me à crónica ESTAMOS ENTREGUES A UMA GENTE IGNARA, que Baptista-Bastos publicou no JORNAL DE NEGÓCIOS e que, não versando sobre questões estritamente políticas (o tema era a reedição da obra literária de Aquilino Ribeiro) serve que nem uma luva para o efeito.

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