domingo, 29 de junho de 2008

RUMORES CADA VEZ MAIS FORTES

No passado dia 18, tomando como mote um artigo de Mário Soares publicado na véspera no DIÁRIO DE NOTÍCIAS, dei aqui conta das conclusões apresentadas no último relatório do “think tank” europeu LEAP/E2020 que apontava entre outras previsões para a falência do sistema financeiro mundial, o rebentamento das bolhas especulativas e a entrada em recessão das economias europeias periféricas, com as do centro a abrandarem o crescimento, previsões que muita gente terá recebido sem grande atenção por as considerar demasiado alarmistas; porém, logo no dia seguinte àquele “post” o EXPRESSO publicou uma notícia – “Crash” bolsista – onde veiculava as opiniões de um especialista do Royal Bank of Scotland, Bob Janjuah, apresentado como o estratega que no ano passado antecipou a crise do “subprime”, que na essência se resume a dizer que «…as bolsas, a começar pela Wall Street, poderão ter um "crash" de grandes proporções depois do Verão».

Caso tal não bastasse, voltou uma semana depois o mesmo EXPRESSO a publicar nova notícia sobre o tema. Com origem noutra grande casa financeira – o BARCLAYS – repete-se o aviso de alerta para uma tormenta financeira originada na baixa credibilidade da Reserva Federal americana (FED).

Embora com fundamentações um pouco diferentes – as conclusões do LEAP/E2020 baseiam-se na observação de um conjunto de fenómenos políticos, económicos e geo-estratégios, enquanto as dos analistas ingleses radicam fundamentalmente no comportamento dos mercados financeiros – todas as conclusões apontam para uma ainda maior degradação da situação global.

E não pensem os mais optimistas que apenas os países mais desenvolvidos, com mercados financeiros mais sofisticados ou mais dinâmicos irão sofrer os efeitos da recessão anunciada, pois como noticiou o DIÁRIO ECONÓMICO as perdas acumuladas pelo PSI-20[1] desde o início deste ano já atingem os 29% e na última sessão da semana nem uma das acções que compõem aquele índice registou qualquer subida!

Aliás, basta uma rápida olhadela ao gráfico da evolução do índice nos últimos doze meses para confirmar aquela realidade que é extensível à generalidade das praças financeiras mundiais.

No final da semana passada receitou-se mais uma descida generalizada com as praças europeias de Paris, Londres e Frankfurt a descerem para níveis idênticos aos registados em Março passado após o anúncio da falência do Bear Stearns; no caso da praça francesa o LE MONDE refere mesmo que desde as cotações terão caído cerca de 30% desde o verão de 2007. Este movimento das bolsas europeias foi mero reflexo do que se registou nas congéneres americanas, onde os índices DOW JONES[2] e NASDAQ[3] caíram cerca de 3%, e asiáticas onde o NIKKEI[4] perdeu 2% e a bolsa de Shangai mais de 5%.

Este clima é comentado pelos operadores nos diversos mercados como explosivo, devido ao longo período de subidas constantes nas cotações da sacções, e tanto mais preocupante quanto a verdadeira dimensão da crise originada no “subprime” continua por avaliar, pelo menos a julgar pela mesma notícia que dá conta de novas situações de escassez de liquidez ou de capitais de bancos, como o anúncio pelo grupo belgo-holandês FORTIS da necessidade de reunir 8 mil milhões de euros e pelo BARCLAYS que anunciou necessitar de mais 6 mil milhões de euros, isto enquanto o americano CITIGROUP anunciou novos prejuízos para o segundo trimestre.

Quando à crise imobiliária e financeira se junta o efeito inflacionista da subida descontrolada do preço do petróleo e dos produtos alimentares, as possibilidades de todo o sistema económico e financeiro, arquitectado a partir dos EUA no período de entre as duas guerras mundiais, abrir brechas é obviamente grande e cada vez maior.

Bem podem os analistas e especialistas do mercado de capitais vir agora criticar a política de descida das taxas de juro que o FED vem praticando, porque quando ela serviu os interesses dos banqueiros enredados nas malhas do “subprime”, financiando a sua recuperação a taxas inferiores à da inflação o que se ouviu foram aplausos e incentivos à continuação. Agora que a situação de crise económica se revela cada vez mais forte e em que os sinais de aumento da inflação são cada vez mais evidentes, os maiores críticos de Ben Bernanke são precisamente os que mais o aplaudiram (a ele e ao seu antecessor Greenspan) e à sua política de dinheiro fácil e barato (para os bancos).

Agora que o grande receio das principais economias é o de enfrentarem um período de estagflação, ou seja um período em que se verifique um crescimento fraco ou nulo e uma subida da inflação, surgem as primeiras críticas e, principalmente, o apelo à inversão da política do FED, mas nunca uma proposta de efectiva reflexão sobre os erros cometidos e muito menos sobre o que realmente poderá evitar a sua repetição – o lançamento de novas políticas de controlo de fiscalização dos mercados financeiros e da desmesurada especulação a que estes têm estado sujeitos.



[1] Nome do índice da bolsa de Lisboa (Portuguese Stock Índex) que integra os vinte títulos com maior liquidez.
[2] Nome do principal índice da bolsa de Nova York que agrupa as principais empresas industriais cotadas.
[3] Nome do índice que agrupa as empresas das novas tecnologias (informática, electrónica, telecomunicações, etc.).
[4] Nome do principal índice da bolsa de Tóquio.

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