quarta-feira, 18 de junho de 2008

QUEM TE AVISA TEU AMIGO É…

Como se vem tornando hábito Mário Soares deixou na sua coluna semanal no DIÁRIO DE NOTÍCIAS mais um aviso ao governo de José Sócrates: a crise global vai chegar cá!

Para os que ontem mesmo leram o texto e pensaram que o aviso pode apresentar algum exagero, recomendo a leitura do último relatório do Laboratoire Européen d’Antecipation Politique (LEAP/E2020), cujo resumo é mais que suficiente para fundamentar aquele alerta.

Em poucas palavras os investigadores do “think tank” europeu apresentam com elevada probabilidade a hipótese de no segundo semestre deste ano se registar um agravamento das condições nas principais economias mundiais; depois de confirmado:

- o contágio por via do elevado endividamento americano;

- a queda generalizada nas principais bolsas mundiais (com especial destaque para a norte-americana e as asiáticas);

- o rebentamento das bolhas imobiliárias (principalmente nos EUA, no Reino Unido e em Espanha);

- a forte volatilidade monetária, com o dólar americano em queda acentuada contra as principais divisas;

- os sinais de estagflação das principais economias, com a agravante da economia americana apresentar evidentes sinais de recessão;

- as alterações geo-estratégicas, com especial relevo na instável região do médio-oriente e/ou originadas pela crise energética mundial;

o LEAP/E2020 avisa agora para a forte probabilidade de:

- agravamento da tendência de desvalorização do dólar e para os efeitos negativos que isso terá sobre a respectiva economia;

- falência do sistema financeiro mundial;

- confirmação do esboroar da economia norte-americana (não apenas a vertente financeira mas também o que resta da produtiva);

- entrada em recessão das economias europeias periféricas, com as do centro a abrandarem o crescimento;

- abrandamento das exportações e crescimento da inflação nas economias asiáticas;

- crescimento das dificuldades na América Latina, com a Argentina e o México a entrarem também em crise;

- aumento da instabilidade nos países árabes com uma forte possibilidade de convulsões em todo o Magreb, na Líbia e no Egipto;

- aumento da probabilidade de ocorrência de um ataque ao Irão;

- rebentamento das bolhas especulativas.

Mesmo que nem todas estas previsões se venham a concretizar, as mais gravosas delas estão, infelizmente, perfeitamente dentro de um horizonte de probabilidade aceitável, tanto mais que a maior parte apresenta um fortíssima correlação com o valor do dólar norte-americano e com a cada vez mais evidente debilidade daquela economia.

Se a par com esta realidade surge a natural tendência para a perca da hegemonia das teses económicas monetaristas e neo-liberais, não é menos verdade que parece ainda prematuro apontar qual a solução que virá a ser adoptada como via para a minimização dos prejuízos e se alguns veteranos mais avisados vão relembrando, como o fez Mário Soares, a necessidade de recuperar as preocupações sociais, outros vão procurando a nova forma capitalista que substitua com vantagens a que agora conhecemos enquanto tudo isto decorre os políticos que nos governam, perdidos nos cenários idealistas e desabituados ou formalmente incapazes de pensarem vão queimando tempo com os seus discursos de modernidades e sobre um ou outro “fait divers” que escondam a sua total inépcia para enfrentar a actual conjuntura.

Totalmente desprovidos de ideias próprias e quiçá incapazes de entenderem a verdadeira dimensão e a multiplicidade de opções disponíveis, governo e oposição, enleados nas suas próprias contradições internas (um governo que aplica as políticas da oposição e encontra no seu próprio seio a maior oposição) assistem ao dealbar da crise como se simples autistas se tratassem.

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