quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

OS SATÉLITES TAMBÉM SE ABATEM…

Finalmente, no passado dia 20 o Pentágono logrou mostrar ao mundo a superioridade da sua tecnologia anti-satélite.

A pretexto do risco que comportaria a queda no solo do satélite USA-193, dispositivo de espionagem lançado na órbita terrestre em Dezembro de 2006 e que por razões de avaria deixou a sua órbita geoestacionária, procedeu à sua destruição. As razões de segurança invocadas prender-se-iam com os riscos resultantes da exposição aos gases libertados do depósito de combustível, provocados pela presença de uma substância altamente tóxica: a hidrazina.

Esta aparente explicação e a grande ênfase dada ao factor de protecção e segurança das populações, embora louvável, não impede que se devam formular algumas questões pertinentes sobre esta decisão.

É do domínio público que ao longo das últimas décadas muitas têm sido as ocasiões em que outros satélites têm caído sobre a superfície terrestre, sem que isso tenha motivado idênticas preocupações às agora reveladas, tanto mais que o composto químico agora referido, misturado com oxigénio líquido ou com peróxido de hidrogénio, é usado desde a II Guerra Mundial como carburante para foguetes. É igualmente do conhecimento geral que a probabilidade de alguém ser atingido pela queda de um satélite, ou outro fragmento cósmico, é muitíssimo inferior à de sofrer um acidente de viação, o que aumenta o grau de estranheza perante a preocupação agora manifestada.

Ninguém negará a evidência da reacção de desagrado manifestada pelos militares e pelo governo norte americano quando em inícios do ano passado a China procedeu ao ensaio de um míssil balístico envolvendo também a destruição de um seu satélite, elevando assim a fasquia tecnológica no muito competitivo negócio da produção e comercialização de armamento e proporcionando um significativo impulso para o desbloqueamento de ainda maiores verbas públicas para o complexo militar-industrial.

Assim, apesar da relativamente reduzida novidade que constitui a utilização de um míssil do tipo SM3, instalado a bordo de uma fragata da classe Aegis, os EUA demonstraram ao mundo a operacionalidade do seu sistema de defesa anti-satélite enquanto parte integrante do antigo projecto da “guerra das estrelas”, que remontando ao período de Reagan as sucessivas administrações foram mantendo de forma mais ou menos encapotada.

Outras explicações para este acontecimento prendem-se com a hipótese dos EUA recearem que a tecnologia ultra-secreta usada no satélite espião agora abatido pudesse cair em mãos não recomendáveis, ou mais prosaicamente, com a hipótese daqueles usarem este acontecimento fabricado para desviar algumas atenções de outros problemas (veja-se a situação no Médio Oriente e as invasões do Afeganistão e do Iraque) que os militares não têm revelado capacidade para resolver.

Certo é que da realização de mais uma desnecessária demonstração de força não vão resultar quaisquer melhorias para a generalidade da população mundial, mas apenas um ainda maior prejuízo para as iniciativas de mediação pacífica de conflitos e um aumento dos gastos na investigação de maiores e mais eficazes meios bélicos.

1 comentário:

FABIO ROOS disse...

olha só, não sei quem é, mas peguei uma foto para publicar. Até