sábado, 19 de janeiro de 2008

CAUTELAS E CALDOS DE GALINHA...[1]

Há medida que começam a ser conhecidos os primeiros resultados de actividade das empresas financeiras norte-americanas os índices das bolsas mundiais vão registando sucessivas quedas, na exacta proporção em que se avolumam os sinais de uma recessão que alguns persistem em não querer ver.

No início desta semana o Citigroup, o principal banco do sistema financeiro norte-americano[2], anunciou um prejuízo até agora inimaginável nos seus quase dois séculos de existência; graças à sua fortíssima exposição no mercado subprime o prejuízo agora assumido atinge os 9,8 mil milhões de dólares, número cuja grandeza o DN “traduziu” dizendo que pagava dois aeroportos de Alcochete.

A este seguiu-se o Merrill Lynch que anunciou prejuízos da ordem dos 8,7 mil milhões de dólares, enquanto continua a crescer o número de bancos que vão dando conta dos grandes prejuízos encaixados por via da sua exposição ao mercado hipotecário americano de alto risco (subprime), facto bem expresso numa síntese elaborada pela BBC NEWS que refere os seguintes valores:

Citigroup: 18 mil milhões US$
UBS: 13,5 mil milhões US$
Morgan Stanley: 9,4 mil milhões US$
Merrill Lynch: 8 mil milhões US$
HSBC: 3,4 mil milhões US$
Bear Stearns: 3,2 mil milhões US$
Deutsche Bank: 3,2 mil milhões US$
Bank of America: 3 mil milhões US$
Barclays: 2,6 mil milhões US$
Royal Bank of Scotland: 2,6 mil milhões US$
IKB: 2,6 mil milhões US$
Freddie Mac: 2 mil milhões US$
JP Morgan Chase: 1,3 mil milhões US$
Wachovia: 1,1 mil milhões US$
Credit Suisse: 1.000 milhões US$
Paribas: 439 milhões US$

de créditos que os bancos foram eliminando dos seus balanços e que vai clarificando a dimensão da crise originada naquele mercado.

Se a isto acrescentarmos o facto de muitos bancos ainda não terem revelado os valores a eliminar e se recordarmos que o próprio presidente do FED estimou recentemente os prejuízos globais da crise do imobiliário em valores da ordem dos 100 mil milhões de dólares (valor que se me afigura optimista face ao facto de só a listagem anterior já atingir quase 75 mil milhões de dólares), tudo indica que a crise estará instalada e para durar, tanto mais que as autoridades políticas e financeiras continuam a insistir na ideia que tudo se há-de resolver por si só.

Pelo menos é o que se pode deduzir das medidas que a administração Bush anunciou ontem – uma abordagem eficaz para evitar uma recessão e acompanhada de medidas temporárias destinadas a estimular a economia, inserida na boa escola do pensamento monetarista e neoconservador – em consonância com as propostas que Bernanke deixara durante a audição que realizou perante a comissão de orçamento da Câmara dos Representantes. Nesta, mantendo a indefectível confiança na robustez e estabilidade da economia americana, Bernanke propôs o rápido lançamento de uma política orçamental que concertada com a política monetária do FED produza efeitos no corrente ano e admitiu mesmo voltar a descer a sua taxa directora

«Para manter a actividade da nossa economia e criar mais empregos, o Congresso e a administração precisam de trabalhar em conjunto para apresentar rapidamente um pacote de medidas», disse Bush ao anunciar a implementação de um pacote de medidas fiscais para evitar uma quebra na principal economia mundial, constituído por incentivos aos investidores e redução da carga fiscal sobre as famílias, no montante de 1% do PIB (qualquer coisa como 145 mil milhões de US$).

O futuro próximo dirá se uma simples redução fiscal e das taxas de juro serão suficientes para relançar uma economia como a norte-americana (e a da generalidade dos outros países) que continua a revelar gritantes disparidades no processo de distribuição da riqueza e uma clamorosa escassez de liquidez[3], com a agravante desta última ser fundamentalmente fruto de um processo que há décadas tem concentrado as disponibilidades no sector financeiro enquanto retira liquidez às famílias e às empresas.
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[1] Receita popular para todo o tipo de doenças, que talvez possa servir à economia americana.
[2] O Citibank, empresa que originou o actual Citigroup foi fundado em Nova York, noa ano de 1812, tem mais de 200 milhões de clientes espalhados pelo 100 países onde operam os seus mais de 300.000 empregados e afirma dispor de activos no valor aproximado de 2,4 biliões US$ (2,4x10^12).
[3] Na sua intervenção o próprio presidente Bush admitiu esta realidade quando afirmou que «…deixar os americanos conservar maiores quantidades do seu dinheiro deve aumentar o consumo»

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