quinta-feira, 20 de abril de 2006

BOAS NOTÍCIAS, MÁS NOTÍCIAS

No mesmo dia em que se deveria registar algum regozijo pelo facto de finalmente a administração americana ter publicado a lista dos “combatentes inimigos” detidos em Guantanamo, algo que se poderia assemelhar com a reposição de alguma legalidade (descontando o facto destes se encontrarem detidos sem julgamento há cerca de 4 anos) em todo este processo, eis que outras notícias nos chegam das terras do Tio Sam que eliminam de imediato qualquer arremedo de sorriso.

Figuras gradas da administração de George W Bush, entre as quais Condoleezza Rice, já tornaram público que os EUA poderão invocar o direito de autodefesa para atacarem o Irão, seja de forma isolada seja integrando uma coligação militar.

Esta hipótese não é para mim um dado novo, basta recordar que o ataque ao Iraque em 2003 foi precedido de uma tentativa de atribuição de um mandato internacional pela ONU e que perante tal impossibilidade americanos e ingleses avançaram em total desrespeito pelo direito internacional, facto que nem por isso o torna menos preocupante nem menos vil.

Não nutro grandes dúvidas que o objectivo último do regime iraniano será a produção de armamento nuclear, mas daí a admitir que existe hoje um risco potencial maior do que existia antes, parece-me estúpido e os argumentos avançados pelos defensores de tal tese apenas convencerão aqueles que quiserem ser convencidos. A título de exemplo recordo que no período que antecedeu a invasão do Iraque também a administração americana se desdobrou em discursos e profissões de fé sobre o armamento químico do Iraque (terão esquecido que o “stock” de armas químicas que forneceram a Saddam Hussein durante a Guerra Irão-Iraque terá sido consumido na íntegra) que depois não conseguiu encontrar nem provar que existia.

Curiosamente os americanos pretendem cobrir com o manto da legalidade uma operação militar abusiva, quando negam a legalidade do direito do Irão produzir energia a partir da tecnologia nuclear, conforme o estipula o tratado de não-proliferação nuclear. O próprio organismo da ONU encarregue de controlar o uso civil daquela energia, a AIEA, e o seu director, Mohamed El Baradei, não confirmam que o Irão esteja a violar os termos daquele tratado.

Na falta de argumentos sólidos e face à recusa da China – cujo presidente Hu Jintao, de visita aos EUA, apenas admitiu a disponibilidade do seu país para utilizar a sua influência junto de uma Coreia do Norte que também já dispõe de armamento nuclear – e da Rússia – que hoje mesmo rejeitou a hipótese de suspender as suas ligações ao programa nuclear iraniano – que persistem em não aceitar a aplicação de sanções contra o Irão, os EUA vêm empolando o tom das suas ameaças na expectativa de com elas criarem um facto político que fundamente o ataque a outro país do Médio-Oriente.

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