domingo, 23 de outubro de 2005

ÉTICA

No final da passada semana foi notícia a assinatura de um Código de Ética dos Empresários e Gestores; o documento resulta de uma iniciativa da Associação Cristã de Empresários e Gestores e prevê, para os signatários, as seguintes obrigações:

·lutar contra situações de fraude, no cumprimento das obrigações fiscais;
·não praticar actos económicos à margem da lei;
·não influenciar ilegitimamente a decisão política;
·pugnar contra a iniquidade e o desperdício por parte do Estado;
·concertar remunerações justas, tendo em conta a realidade do sector económico, as possibilidades reais das empresas e a capacidade dos trabalhadores;
·criar condições de trabalho que respeitem a dignidade, a saúde e a segurança dos colaboradores, dando-lhes oportunidades de formação e respeitando-lhes o seu projecto de vida;
·não abusar da posição dominante no mercado;
·opor-se a todas as formas de corrupção, activa ou passiva;

·rejeitar publicidade e marketing que sejam degradantes, indignas, manipuladoras ou abusivas.

O acto, por mais louvável que seja, parece-me traduzir a necessidade de alguns sectores empresariais se apresentarem sob “novas roupagens” e, atendendo ao crescente número de notícias que circulam sobre práticas de concertação anti-económica, terá sido ditado mais pela necessidade que pelo empenho dos seus promotores.

Se isto não fosse em si o reconhecimento de que a prática da generalidade dos nossos empresários é pelo menos moralmente condenável (em boa parte dos casos sê-lo-á mesmo civil e criminalmente), seria ridícula a publicidade feita ao acto e pior ainda admitir-se a necessidade de formalizar códigos de conduta que consagram princípios básicos, primários mesmo, no relacionamento entre as partes.

Não será ridículo propor-se a qualquer cidadão deste país um pacto segundo o qual se obrigará ao devido pagamento de impostos, se absterá de violar a lei?

Não será ridículo propor-se a qualquer empresário deste país um pacto segundo o qual se obrigará ao pagamento de remunerações justas e a oferecer condições de trabalho seguras e dignas?

Não será ridículo propor-se a qualquer empresário deste país um pacto segundo o qual se obrigará a combater todas as formas de corrupção activa e passiva?

Infelizmente para todos nós a resposta a todas as perguntas é um rotundo e enorme NÃO!

E porquê? Porque a nossa sociedade peca por nestes últimos anos ter passado a glorificar o oportunismo e o arrivismo de todos quantos passaram a alardear aos quatro ventos as suas capacidades de fazer, em detrimento de apoiar e incentivar aqueles que foram revelando esse tipo de capacidades mediante obras executadas.

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