quinta-feira, 27 de outubro de 2005

SERÃO OS RESULTADOS EFICAZES?

Após o anúncio oficial dos resultados do refendo sobre a nova constituição iraquiana, com uma expressiva vitória do “SIM” (78,6% contra 21,4%) seria de esperar que o ambiente melhorasse naquele país.

Nada mais enganador, os atentados contra as forças de ocupação e as tropas iraquianas que as apoiam continuaram a ceifar vidas, bem como as de muitos outros civis.

O próprio resultado deve ser analisado sob uma diferente perspectiva. Existindo a regra de que um voto contra, maioritário de 2/3 em quaisquer de três regiões determinaria a rejeição da proposta, convém recordar que em duas províncias (Salahuddin e Anbar) maioritariamente sunitas tal se verificou, tendo a proposta sido salva porque a vitória do “NÃO” em Nineveh se ficou pelos 55%.

Qualquer que fosse o resultado do referendo (aprovação da constituição pelos xiitas e curdos ou rejeição por efeito das três maiorias de 2/3 nas províncias sunitas) continuariam por resolver todos os problemas do Iraque: o país mantém-se sob ocupação estrangeira e as três comunidades religiosas e étnicas tardam em encontrar uma plataforma de entendimento.

Para agravar tudo isto o estado ocupante persiste em recusar o direito da população do estado ocupado escolher a forma como quer ser governada, opção tanto mais grave quanto se sabe que contrariamente aos estados judaico-cristãos, as nações muçulmanas nunca realizaram o processo de separação de poderes entre o Estado e a Igreja.

Se recordarmos que George W Bush lançou o assalto ao Iraque sob o pretexto de desarmar um estado tirano detentor de armas de destruição massiva e englobou esta iniciativa na mais vasta “Guerra contra o Terror”, não podemos deixar de concordar com todos quantos afirmam que após esta iniciativa o Mundo se encontra bem mais distante da segurança prometida.

Os contributos de sociólogos, psicólogos, politólogos, teólogos e de todos os especialistas que possam trazer achegas no sentido de melhorar o entendimento entre os povos serão indispensáveis, se realmente estivermos empenhados em querer entender o que determina homens a fazerem-se explodir, a par com a nossa disponibilidade para aceitar outras formas de pensamento.

Abordagens simplistas, do tipo luta entre o bem e o mal e a rotulagem de fanatismo, não explicam o fenómeno nem contribuem para a elaboração de estratégias que conduzam ao progressivo esvaziamento das bases de apoio de organizações do tipo da Al-Qaeda.

Iniciativas como a que ontem se conclui na Fundação Gulbenkian (CONFERÊNCIA TERRORISMO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS) podem ser um importante contributo se TODOS soubermos ouvir as “razões” das duas partes e sobretudo se abandonarmos a muito confortável posição de pensarmos que NÓS É QUE TEMOS RAZÃO.

Com a vasta panóplia de informação disponível (jornais, televisão, Internet) temos que adquirir a capacidade de tudo interpretar de espírito aberto e de nos questionarmos, até, sobre o que há instantes parecia inatacável e inabalável, partir para cada documento como se fosse o primeiro a abordar o tema e por último colocarmos a nós próprios a grande questão: QUEM LUCRA COM TUDO ISTO?

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