quinta-feira, 18 de agosto de 2005

A “MALAPATA” DA MATEMÁTICA OU A PROVA DA NOSSA INEFICÁCIA?

Passam os anos, sucedem-se os governos e os ministros, mas os resultados dos exames nacionais do 12º ano de escolaridade persistem em não melhorar.

Tomando por exemplo as disciplinas de Matemática e de Português B (geral), constata-se que da 1ª para a 2ª fase, daqueles exames, os resultados pioraram, quer a nível da percentagem de reprovações quer na média de cada disciplina.

No caso da Matemática passou-se de 31% para 47% de reprovações, com a média a descer de 6,9 para 5,8 valores; no Português B o número de reprovações aumentou de 7% na 1ª fase para cerca de 33% na 2ª, com a média a descer de 11,1 para 8,7 valores.

Podendo-se admitir como natural que não se registassem melhorias entre as duas fases - normalmente a 2ª fase é usada pelos alunos que não obtiveram classificação (9,5 valores) na 1ª e pelos que optaram por “preparar” melhor essa disciplina – não me parece admissível uma degradação tão acentuada (mais de 50% no caso da Matemática e quase o quadruplo no caso do Português B).

Perante este nível de resultados mais que se justifica colocar as seguintes questões:

Como entende o Ministério da Educação inverter esta situação?

Para quando a definição de uma estratégia para a correcção do problema?

Será que nenhum responsável pela educação dos nossos jovens alguma vez se questionou sobre a origem do problema?

Se a resposta for pela positiva (como se exige), como explicar então que o nosso sistema de ensino continue a “produzir” milhares de jovens inaptos (outra coisa não se pode chamar a quem, no final de doze anos de escolaridade não consegue obter uma classificação mínima a uma, ou mesmo às duas disciplinas básicas) que quando tentarem integrar o mercado de trabalho irão encontrar dificuldades acrescidas de ingresso?

Mas, a dimensão do problema da baixa qualidade da formação dos jovens é bem maior do que estes números revelam. Para o confirmar basta pensar que o universo em análise (12º ano de escolaridade) já não inclui muitos dos que infelizmente se quedaram pelo 3º ciclo de escolaridade.

Para generalizar esta análise àquele nível de ensino comparemos os resultados nos exames nacionais (que este ano se voltaram a realizar), alcançados nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.

A acreditar no texto da Nota emanada pelo Gabinete de Imprensa do Ministério da Educação, sobre o assunto, os resultados nestes exames do 9º ano não foram tão catastróficos. Nela se anunciam, percentagens de aprovações de 89% a Língua Portuguesa e de 74% a Matemática. Facto consolador e transmissor de justas esperanças na melhoria, daqui a três anos, dos resultados nos exames do 12º ano.

Porém, uma leitura mais atenta dos resultados dos exames do 9º ano de escolaridade (e não da nota final que resulta de uma ponderação entre 75% da nota do 3º período e de 25% da nota do exame) revela que na disciplina de Língua Portuguesa 23,1% dos alunos não alcançaram a nota mínima, na disciplina de Matemática este valor subiu para 70,7% e as notas médias situaram-se em 3,04 e 2,17 para as duas disciplinas, respectivamente.

Na ausência de dados concretos, estou em crer que a terem-se realizado exames nacionais no final de cada ciclo de escolaridade (4º e 6º ano) os resultados seriam semelhantes, porquanto, é minha convicção que as “incapacidades” dos nossos jovens não são inatas ou congénitas, mas sim adquiridas ao longo de um processo de formação que dificilmente lhes consegue inculcar valores de Trabalho, Mérito e Excelência.
E porquê? Porque os seus agentes estão, quase, exclusivamente preocupados com o cumprimento de metas estatísticas de sucesso – para quem alguma vez tenha vivido de perto o processo de avaliação escolar, no sistema de escolaridade obrigatória que no nosso país se cumpre até ao 9º ano, sabe que é muito mais difícil justificar a retenção de um aluno do que atribuir-lhe o 3 salvador que o fará transitar de ano e, maravilha das maravilhas, melhorará os rácios nacionais de escolaridade – e descuram o seu papel principal: formar jovens, dotando-os de um conjunto de conhecimentos adequados à necessidade da sua integração numa sociedade crescentemente tecnológica e competitiva.

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